terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Evangelho Multidirecional

Uma vez eu aprendi uma coisa muito interessante: As pessoas querem ajudar. Ok, existe todo tipo de gente, com todo tipo de interesse. Existem aqueles que não querem ajudar os outros de jeito nenhum, acham que é pura perda de tempo, etc, etc. Desconsideremos então essa minúscula minoria. Reafirmo então: As pessoas querem ajudar. Só precisam de uma entrada fácil, conduzida, a um ambiente de solidariedade prática. E provocar um sorriso em quem estava na pior, cara, isso faz o dia de qualquer um valer a pena. E o quadro do mundo é esse: Um monte de gente sozinha boiando no oceano com seus botes salva-vidas, esperando topar com um náufrago para resgatar. Sendo que muitos não se lembram, mas eles próprios estão nos botes por serem sobreviventes de naufrágios. Agora, fique com essa imagem, e vamos para um outro tema, e depois faremos a conexão.



Missionários. Gente engajada na divulgação do Evangelho. Há aqueles que atuam de um modo mais empreendedor, atuando com estratégia, liderando grupos de dentro de um gabinete. Há aqueles guerreiros que adentram o desconhecido em busca de trevas para iluminar. Há muitos outros tipos, muitos outros. Há até estagnados. Enfim, toda a Igreja é missionária, de alguma forma. Essa é a única faceta da Igreja? Não. É a mais importante? Não acho que essa pergunta tenha sentido. Mas fique com esse quadro: Alguns (os cristãos) querendo alcançar o resto do mundo. Quando digo 'alcançar', quero dizer: fazer a pessoa crer no Evangelho de Jesus, trazendo-a então para a comunidade da Igreja.

Qual é a fórmula básica de evangelismo que está implícita em muitos de nós? A Igreja ajuda a pessoa, seja com obras de caridade, ou talvez guiando-a a Deus, que a curará de uma depressão, por exemplo. Não importa a forma, sendo a pessoa ajudada na grande necessidade, como porta de entrada para a Igreja. Nessa entrada ela é restaurada, e um dia, lá dentro, se torna ela própria uma ajudadora. E o ciclo se repete. Perfeito. Mágico. Não pense que eu quero questionar isso, não mesmo. Isso é lindo. Mas não é o único meio de alcançar as pessoas, e talvez não alcançará um certo tipo de pessoas. Já vamos falar disso.

Antes, vou falar em algo que acredito: que Deus age em todas as direções. Falamos muito da transformação de dentro pra fora. Mudamos o nosso coração, e naturalmente nossas ações vão mudando. Certíssimo. Mas deixe-me apresentar a transformação de fora pra dentro: mesmo contra nossos desejos, começamos a fazer algo que cremos que vale a pena. E com o tempo ficamos inspirados, e de repente estamos amando fazer aquilo. Ok, eu não precisava ter apresentado, você certamente conhece isso. Mas não se fala muito nisso dentro da Igreja, por certos motivos: ao investirmos na transformação de fora pra dentro, se não tomamos muito cuidado, podemos acabar voltando a dar os passos daquela religiosidade vazia, composta de rituais e tradições sem sentido. E se torna ainda mais perigoso se queremos impor a transformação de fora pra dentro a outra pessoa. Isso teria a mesma cara feia do autoritarismo religioso, das regras limitadoras, que vão contra a idéia de liberdade que é tão importante para a Igreja. Mas apesar desses perigos, essa forma de transformação existe, e muitas vezes funciona. Deus age em todas as direções (penso eu).



Então, onde quero chegar: existe uma outra forma de evangelismo, onde a pessoa tem o primeiro contato com a Igreja sendo já uma ajudadora, e lá dentro, depois, é que ela é ajudada. Lembra-se dos botes salva-vidas boiando no oceano a procura de náufragos? Lembra dos que também são náufragos, mas que não sabem? Pois é, são as pessoas que querem ajudar, mas elas próprias não vêem que precisam de ajuda. Elas estão por aí, fora das Igrejas, cheias de boas intenções e com poucas oportunidades. E as Igrejas anunciam: venha para Jesus e tenha a sua vida resgatada do inferno, bênçãos, etc. E elas pensam "Mas a minha vida é muito boa! Inferno mesmo deve ser a vida daquele mendigo que eu passei direto agora há pouco!". Agora imagine se essa pessoa recebesse uma visita de alguém da Igreja que dissesse: "estamos precisando de gente para ajudar a levar roupa para mendigos, e chamá-los para um abrigo. Já está tudo organizado, o seu papel seria bem simples. Quer ajudar?" Muitos não-cristãos aceitariam, porque as pessoas querem ajudar! E lá no contato com a equipe da Igreja, iria encontrar um sentido maior, e conhecer o Evangelho. E só então iria perceber o quanto ela própria estava perdida sem a Cruz. E a própria restauração seria uma das últimas coisas a acontecer.

Ao fazer mais parcerias com os que estão de fora da Igreja (partindo da situação em que os de dentro já estão envolvidos), sejam ONGs, projetos sociais, o alcance da Igreja será muito maior. Porque o contato com o mundo será maior. E quando cremos na existência de uma Verdade, não precisamos ter medo da troca de experiências com outras culturas e pensamentos. Gandhi era um hindu, mas quantas coisas preciosas surgiram do seu relacionamento com cristãos que estavam participando do seu trabalho. Cristãos firmados na Verdade se apegam aos pontos em comum com outras pessoas, e fazem trabalhos maravilhosos nessas parcerias. Como Igreja, chamamos os de fora. Não só para ajudar a si próprio, em uma vida individualista. Mas dessa vez chamamos o não-crente dizendo: Venha conosco, melhorar esse mundo.



Portanto, lembremos que a inversão da ordem das coisas pode gerar novos caminhos. E não é um caminho ou outro, mas a diversidade de caminhos que faz a Igreja ser completa. E todos serão alcançados e conduzidos por essas vias, até chegar no ponto onde elas se encontram: Jesus, o Único Caminho que leva ao Pai, que é criativo o bastante para fazer pessoas diferentes e únicas, cada uma precisando receber a luz de uma direção.

Um comentário:

  1. Eu realmente nunca tinha parado pra refletir sobre esse assunto. Mas tenho visto na prática que isso acontece e que principalmente deveria acontecer mais, e poderia, se a maioria dos crentes não tivessem uma mente tão limitada, é um modo inteligente de se pensar sobre o evangelho. Aproveitar todas as oportunidades para estar no mundo apesar de não sermos dele. afinal, o schema é no mundo né Dih =P
    beijo!

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